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Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “conv
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Fim da pandemia e as perspectivas para 2022

 A Newsletter da LAM Comunicação está de volta. Abertura da news abaixo. Ao contrário do que ocorreu nos EUA e Europa, o Brasil até agora não foi afetado pelas novas variantes do coronavírus, felizmente. A cada semana, a média móvel de mortes e novos casos vem diminuindo e diversos municípios já flexibilizaram os protocolos mais rígidos, inclusive o uso de máscaras ao ar livre. Claro que a pandemia ainda não terminou, é preciso estar atento às tendências no mundo, mas o fato é que neste momento os brasileiros estão retomando as atividades presenciais com mais segurança, inclusive pelo avanço da vacinação. São Paulo, por exemplo, vacinou mais do que os EUA e as nações mais populosas da Europa, tendo requisitado autorização para iniciar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos de idade.  E qual será o impacto desta melhoria para o país? Na prática, a retomada da economia deve ocorrer lentamente, segundo as últimas projeções do mercado financeiro, até porque a situação se deteriorou muit

Entre o vírus e o vazio, o esporte

Nunca uma edição dos Jogos Olímpicos esteve tão fadada a um ambiente fantasmagórico quanto a que foi aberta nesta sexta-feira em Tóquio, com um ano de atraso, sem público nos estádios nem turistas na cidade. A pandemia não foi capaz de impedir o principal evento do calendário esportivo mundial. Mas não faltaram vozes contrárias ao evento ―70% da população japonesa se opunha, segundo as pesquisas, num país de 126 milhões de habitantes onde apenas 21% receberam a pauta completa da vacina contra covid-19. Tampouco faltaram patrocinadores em retirada, caso da Toyota. Apesar da maré ruim, o Governo nipônico e o COI seguiram adiante com um projeto orçado em mais de 80 bilhões de reais. O organismo olímpico garante para si um pagamento aproximado de 18 bilhões, enquanto o Japão estima prejuízos de cinco bilhões. Essa cifra, no entanto, dispararia em caso de cancelamento, pois seria preciso assumir as multas contratuais correspondentes. “Hesitamos a cada dia”, chegou a dizer nos últimos dias o

Temos menos lembranças porque estamos olhando para o celular

“Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos rompidos.” É difícil encontrar uma definição melhor da memória do que a oferecida por Jorge Luis Borges neste poema. Lembrar, uma função essencial do nosso cérebro, é também comprovar a fragilidade da nossa memória. Quão equivocada pode ser, quão vulnerável a contaminações a partir do que é lembrado por outras pessoas, ou mesmo quão capaz de elaborar falsas lembranças, como demonstrou a psicóloga Elizabeth Loftus. Os erros da memória são a norma e não a exceção, porque as experiências da nossa vida não ficam gravadas na nossa mente, nem o passado pode ser rebobinado sem mais, mas ficam armazenadas em múltiplos fragmentos e, com o passar do tempo, estes fragmentos confusos podem se recombinar de uma maneira diferente de como os eventos ocorreram em seu momento. Sem atenção não há memória. E em um mundo dominado por infinitas distrações tecnológicas é pertinente perguntar se o rastro das noss

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Dribles na tirania

A ideia de que Jair Bolsonaro pode desistir de tentar a reeleição não saiu da cabeça de nenhum oposicionista signatário dos inúmeros pedidos de impeachment ora postos em sossego sob o derrière do presidente da Câmara, Arthur Lira. Quem levantou a lebre foi o presidente. Não pode reclamar, portanto, se o assunto vier a tomar conta das mentes e das bocas Brasil afora. “Mas não é que pode ser uma boa?”, arrisca-se Bolsonaro a começar a ouvir daqui em diante. É claro que essa não foi a intenção dele. Tampouco se tratou de um descuido. A hipótese foi aventada ao jogar a toalha e admitir a impossibilidade de o Congresso aprovar a reintrodução do voto impresso no sistema eleitoral. Mas podemos ir além. Quais seriam as razões do presidente? Vejo duas. Estimular sua militância a embarcar numa espécie de “queremismo” revisitado inspirado em Getúlio Vargas para tentar conter o derretimento da densidade eleitoral é uma. A outra, se não der certo a primeira e as condições de competitividade descere

Megainvestidor George Soros expõe seus temores

Para quem conhece o pensamento do megainvestidor e filantropo húngaro George Soros por meio do clássico “A alquimia da finança” (1988), talvez o maior interesse da leitura de “Em defesa da sociedade aberta” esteja em encontrar um perfil mais amplo e menos sólido de seu autor. Neste apanhado de textos em que expõe sua maneira de pensar, sobretudo o que denomina sua “estrutura conceitual”, Soros não esconde a apreensão de quem vê o mundo se encaminhando na direção oposta de seus ideais, com a ascensão de lideranças políticas com viés antidemocrático, a mudança climática, a falta de cooperação internacional, o excesso de poder das plataformas digitais. Nos capítulos de teor mais teórico, adota um tom ligeiramente lamentoso por ser mais conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra” do que como pensador. Tudo somado, os escritos de alguém cuja atuação alcança escala global revelam algo de essencialmente humano, escreve Diego Viana em resenha publicada no Valor na sexta, 23/7. C

Arthur Lira e Centrão querem mudar para permanecer ainda mais fortes no poder

Em muitos momentos da história, a elite política brasileira optou por ideias prontas que seriam capazes de dar conta de vários desafios do país. Quase sempre esse processo era pouco conversado com a sociedade e, geralmente, escondia agendas ocultas, enunciando apenas o “lado bom” das propostas. O presidente da Câmara, Arthur Lira, comanda hoje um debate sobre reforma política que segue esta linha de “soluções em busca de problemas”, na qual não há um diagnóstico claro sobre as causas do fenômeno e sobre a efetividade das mudanças. O que importa para o reformismo do Centrão é mudar para permanecer ainda mais forte no poder. A lista de alterações no ordenamento do sistema político proposto por Lira e seu exército de reformistas do Centrão é realmente impressionante. Para ficar nas mais importantes, mudanças no modelo eleitoral, na forma de prestação de contas dos partidos, na atuação do Tribunal Superior Eleitoral, voto impresso e, agora, a troca do presidencialismo pelo semipresidencial

O absurdo observado por Ignácio de Loyola Brandão em 1961 virou o Brasil de 2021

“Não verás país nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão, publicado em 1981, é uma obra-prima da literatura do absurdo, que antecipa em 40 anos o nosso estranhíssimo Brasil enfermo de hoje. Autores da literatura do absurdo têm o dom de ver nas minúcias da realidade e nas entrelinhas anômalas da vida cotidiana indícios de uma sociedade que, aparentemente, ainda não existe. E parece que não vai existir. Mas que está lá, na invisibilidade enganadora da falsa consciência do real, do que é ainda gestação de relações sociais e de mentalidades. Uma sociedade de contraste com tudo que estamos habituados a considerar uma sociedade “normal”. Parece fantasia de escritor imaginoso. Cada vez mais, porém, essas obras são verdadeiras etnografias de transformações sociais que levarão a sociedades tão absurdas quanto suas antecipações literárias, escreve José de Souza Martins no Valor, em artigo publicado na sexta, 27/7. Continua abaixo. Em seu primeiro livro, “Depois do sol”, Loyola traz à luz de seus co

Reino Unido decreta o fim da pandemia. Foi a melhor decisão?

No dia 19 de julho o governo inglês revogou todas as medidas de distanciamento social, o uso de máscaras e as restrições ao comércio. A vida voltou ao normal em Londres. Os ingleses festejaram nos pubs e nas boates. A festa do "dia da liberdade" virou a noite. As únicas restrições mantidas se relacionam às viagens internacionais e ao ingresso de turistas. A partir de agora, o controle da covid passa a ser uma responsabilidade individual e não mais do governo. Ou seja, a covid vai ser tratada como mais uma doença infecciosa. Cada um cuida de si e administra os riscos que deseja correr. O governo informa a população, fornece os meios para as pessoas se protegerem (vacinas) e hospitais para se tratarem. A lógica por trás dessa decisão é que existem vacinas capazes de evitar novos casos e mortes. Essas vacinas já foram oferecidas a todos os maiores de 18 anos do país: quem quis foi vacinado com as duas doses. Além disso, quem desejar vai receber um reforço nos próximos meses, esc

Três traduções do interesse coletivo

Na França, só se entra em cinemas e museus com prova de vacinação ou teste negativo —e logo a regra valerá para shoppings, cafés e restaurantes. Na Austrália, nova rodada de lockdowns atinge a maioria da população, enquanto a Europa volta à quase normalidade. No Brasil, prefeitos cassam o direito à imunização dos chamados “sommeliers da vacina” —e recebem aplausos de ilustres comentaristas. Interesse coletivo versus direitos individuais, em três versões. Vacinar é direito individual ou dever cívico? O governo francês decidiu-se pela segunda alternativa. Manifestações populares conduzidas pela extrema direita ou pela extrema esquerda contestam o “arbítrio estatal”, escreve Demétrio Magnoli em sua coluna na Folha de S. Paulo, publicada neste sábado, 24/7. Continua abaixo. Há uma certa graça nas cenas de líderes extremistas, admiradores de Putin ou do castrismo, engajando-se na apologia dos direitos civis. A diversão cessa quando eles cruzam o limite do discurso delinquente para equiparar

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira, qua

O “alarido” que sacode Cuba

“Estava na cara que iria acontecer isso”, diz, referindo-se aos protestos, o jovem Ariel, sentado em um bicitáxi em Havana Velha e apontando para uma longa fila diante de uma loja que opera com a moeda nacional, de onde acabam de sair com detergente. Há calma no bairro, mas a reclamação de Ariel é a de muitos cubanos, sejam eles trabalhadores do Estado ou do setor privado: pedalando ou sem pedalar, com uma renda normal não dá para viver. “Se você somar a isso a falta de remédios, o desabastecimento absoluto, as filas de horas, os blecautes e as décadas de sucessivas crises, tudo sem esperanças de que a coisa melhore, aí está a bomba”, opina o jovem, que não quer dar seu sobrenome e diz ter visto “de longe” as manifestações que sacudiram no domingo passado a capital e várias outras cidades de Cuba, causando uma verdadeira comoção nacional. “As pessoas não aguentam mais. Nunca tinha acontecido uma explosão parecida”, assegura. Um percurso por Havana Velha e Havana Central cinco dias depo